Thaddeus nasce de embrião congelado por 30 anos e se torna símbolo de esperança para famílias que enfrentam infertilidade
Um nascimento fora do tempo
Thaddeus Daniel Pierce veio ao mundo em 26 de julho, em Ohio, nos Estados Unidos, e já nasceu com um título inusitado: o de bebê mais velho do mundo. Não por sua idade, claro, mas pela do embrião que o originou — congelado há mais de 30 anos, em 1994. O recorde anterior pertencia a gêmeos nascidos em 2022 a partir de embriões preservados desde 1992. Linda Archerd criou o embrião enquanto tentava engravidar por meio da fertilização in vitro, uma tecnologia ainda experimental nos anos 1990. Ela e o então marido geraram quatro embriões; transferiram um com sucesso, que resultou no nascimento da primeira filha do casal. Os outros três foram congelados com a técnica disponível na época, que envolvia congelamento lento, menos eficaz que as práticas modernas.
Décadas depois, após o divórcio e a chegada da menopausa, Linda optou por doar os embriões. Mas não queria um processo anônimo: queria saber quem receberia aquilo que considerava parte de sua família. Foi assim que conheceu Lindsey e Tim Pierce, um casal cristão que tentava engravidar há sete anos. Eles aceitaram os embriões, mesmo sabendo que as chances de sucesso eram baixas. Com o apoio da clínica Rejoice Fertility e do médico John Gordon, os embriões foram cuidadosamente descongelados em novembro de 2024. Apenas dois resistiram ao processo. Ambos foram implantados, e um se desenvolveu com sucesso. Meses depois, Thaddeus nasceu saudável, emocionando todos os envolvidos.
Uma jornada entre fé, ciência e persistência
A história de Thaddeus não é apenas uma façanha médica. Ela também representa fé, coragem e a persistência de quem acredita na vida, mesmo contra estatísticas desanimadoras. Os embriões antigos frequentemente não são aceitos por clínicas de fertilidade, pois as chances de sucesso diminuem com o tempo de congelamento. Mesmo assim, o casal Pierce decidiu seguir adiante. A Nightlight Christian Adoptions conectou Linda aos novos pais e se especializou em “adoções de embriões”, processo comum entre grupos cristãos nos Estados Unidos. Nessa modalidade, os doadores conhecem os receptores e participam da escolha, diferente das doações anônimas tradicionais.
O médico John Gordon, que conduziu o procedimento, acredita que cada embrião merece uma chance de vida. Ele afirma que “o único embrião que não pode gerar um bebê saudável é aquele que nunca é transferido”. Esse pensamento guiou a clínica Rejoice a aceitar um caso que outras instituições considerariam inviável. Linda, por sua vez, se emociona ao ver fotos de Thaddeus, reconhecendo nele traços da filha que gerou nos anos 90. Ela ainda não conheceu o bebê pessoalmente, mas diz que seria um sonho poder vê-lo. Lindsey, a mãe que o gestou, afirma que o filho foi recebido com alegria pela família e pela igreja, mesmo que muitos vejam a situação como “algo saído de um filme de ficção científica”.
Reflexões sobre ciência, tempo e escolhas
O nascimento de Thaddeus levanta discussões sobre ciência reprodutiva, bioética e a forma como lidamos com os avanços da medicina. A criopreservação de embriões já é prática comum em clínicas de fertilização, mas raramente os embriões permanecem armazenados por mais de três décadas. Esse caso mostra que a tecnologia pode surpreender, mesmo quando usada em sua versão mais antiga.
Estudos mostram que cerca de 2% dos nascimentos nos Estados Unidos em 2023 ocorreram por meio da fertilização in vitro. No Reino Unido, o índice foi de 3,1%. Entre mulheres de 40 a 44 anos, esses números são ainda mais expressivos. A tendência é de crescimento, à medida que as pessoas adiam a maternidade e recorrem a métodos assistidos.
O caso de Thaddeus, porém, vai além da estatística. Ele simboliza a conexão entre pessoas separadas por décadas, ligadas por uma decisão compartilhada: dar uma chance à vida. Ele também lança luz sobre o destino de milhares de embriões criopreservados que seguem sem definição. Questões éticas, como o direito à identidade genética, o papel dos doadores e a autonomia reprodutiva, entram em pauta com mais força. Afinal, até que ponto um embrião é apenas um material biológico — e quando ele se torna parte de uma família? Para Linda, Lindsey e Tim, a resposta é clara. E para o pequeno Thaddeus, ela está apenas começando a ser vivida.