Ministro Alexandre de Moraes é alvo da Lei Magnitsky nos EUA. Sanção é rara, afeta finanças globais e levanta tensão diplomática com o Brasil
O que é a Lei Magnitsky?
Repercutiu mundialmente a decisão dos Estados Unidos de sancionar Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Global Magnitsky. A medida, oficializada na quarta-feira (30), impõe bloqueios financeiros e restrições de entrada em território americano a indivíduos acusados de corrupção ou violações graves de direitos humanos.
O caso do advogado russo Sergei Magnitsky, que morreu na prisão após denunciar corrupção estatal, inspirou a criação da Lei Magnitsky em 2012, ampliada globalmente em 2016. Desde então, a norma vem sendo usada para penalizar oligarcas russos, autoridades autoritárias e membros de regimes repressivos.
A aplicação da lei contra Moraes é considerada sem precedentes, especialmente por envolver um integrante da Suprema Corte de um país democrático. As sanções incluem congelamento de bens nos EUA, proibição de transações com cidadãos ou empresas americanas e cancelamento de vistos. O nome do ministro passou a constar na lista da OFAC (Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros).
Segundo o governo americano, a decisão está ligada à condução dos inquéritos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no STF por tentativa de golpe de Estado. O senador Marco Rubio e o deputado Eduardo Bolsonaro foram figuras centrais nas articulações para a sanção. Moraes já havia tido seu visto revogado no dia 18 de julho.
Efeitos financeiros globais e impactos duradouros da sanção
A chamada “pena de morte financeira” que acompanha a Lei Magnitsky tem efeitos além das fronteiras dos EUA. Uma pesquisa da Universidade Nacional da Austrália mostrou que os sancionados raramente saem da lista — e quando saem, os efeitos permanecem por anos. Apenas dois dos vinte primeiros sancionados entre 2017 e 2020 conseguiram reversão formal.
Instituições financeiras internacionais, mesmo não obrigadas legalmente, tendem a seguir a decisão americana para evitar punições secundárias. Isso pode afetar transações, contas bancárias, investimentos e até contratos corporativos, como já ocorreu em casos anteriores. Por exemplo, após sancionarem Félix Bautista, bancos na Europa e na Ásia encerraram relações com ele e sua família.
A inserção de Moraes nessa lista implica em restrições que vão além da reputação pessoal: compromete sua liberdade financeira internacional. Bancos, seguradoras e operadoras de cartões podem bloquear serviços preventivamente. O isolamento econômico não depende de condenação judicial, mas apenas da decisão executiva do Departamento do Tesouro dos EUA.
Especialistas apontam que a medida, embora controversa, deve permanecer ativa por um longo período, já que não há mecanismo legal claro para reversão. Em geral, mudanças políticas no governo americano costumam influenciar mais na retirada de nomes do que argumentos legais formais.
Tensão diplomática e ofensiva política envolvem sanção inédita
A aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes ocorre num contexto de crescente tensão entre aliados de Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal. Desde março, o deputado Eduardo Bolsonaro vem articulando nos EUA a ampliação das sanções, sugerindo inclusive que familiares de Moraes também sejam atingidos.
O movimento inclui apoio de figuras republicanas como os deputados Maria Elvira Salazar e Darrell Issa, autores do projeto “Sem Censores em Nosso Território”, ainda em tramitação. O texto pretende barrar autoridades estrangeiras acusadas de censurar cidadãos americanos — uma referência indireta ao STF.
Em resposta, Moraes afirmou, durante evento público, que o Brasil não é mais colônia desde 1822 e destacou a independência do Judiciário nacional. A fala foi vista como recado direto à ofensiva norte-americana. O Itamaraty ainda não emitiu nota oficial sobre a medida.
Especialistas alertam para o precedente diplomático aberto. Embora sem força jurídica no Brasil, a sanção repercute fortemente em foros internacionais e pode influenciar parcerias comerciais e decisões de instituições privadas. O caso expõe uma nova fase da relação Brasil-EUA, marcada por pressões ideológicas e disputas narrativas no plano internacional.