Comunidade quilombola que pede socorro a Lula sofre sem direitos

Carta foi entregue ao presidente em 11 de maio em evento em Salvador

Uma carta escrita de madrugada. A mãe, Rose, analfabeta, e a filha, Franciele, estudante de direito, capricharam nas explicações. Escreveram, escreveram, escreveram. Quando viram, a vida estava ali, naquelas oito páginas. Era a chance.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Salvador no dia 11 de maio para assinar o decreto de regulamentação da Lei Paulo Gustavo, e elas precisavam chamar a atenção para um desespero. No dia seguinte, durante o evento, ouvia-se de longe o grito da mulher: “Lula, pelo amor de Deus. Estamos sem água, sem esgoto, sem escola. Socorro!”

–  “Traga ela aqui”, pediu o presidente.

Rose Meire dos Santos Silva, de 44 anos, foi ultrapassando as fileiras uma a uma e era contida pelos seguranças na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, lugar em que o presidente assinou o decreto de regulamentação da Lei Paulo Gustavo, no último dia 11 de maio. 

Ela gritava pedindo para entregar um documento ao presidente. Primeiro, Lula pediu que ela esperasse um pouco. De tanto insistir, Rose foi atendida. Subiu ao palco, se ajoelhou, se emocionou e ergueu o coração. “Lula, nosso povo está morrendo. Pelo amor de Deus”. 

A mulher, que subiu ao palco naquele dia, é coordenadora da Associação dos Remanescentes do Quilombo Rio dos Macacos. “Sou uma mulher que luta para sobreviver”, disse, em entrevista à Agência Brasil, na semana seguinte ao evento

Luta para sobreviver porque a comunidade, com 150 famílias em 104 hectares no município de Simões Filho (BA), carece de direitos básicos e vive em um conflito com a Marinha, que construiu a Base de Aratu naquelas cercanias, na década de 60. “A gente vem sofrendo há mais de 50 anos. A gente paga, mas não tem iluminação pública, nem posto de saúde, nem escola”. Aliás, para ir e voltar da escola, as crianças precisam caminhar cerca de 14 quilômetros.

Outro problema que ela reclama é a falta de transporte e de acesso independente à comunidade. Para chegar à própria casa, os moradores precisam passar pela área militar. Isso dificulta, conforme ela explica, até o socorro de saúde quando há necessidade.

Rose Meire diz que um problema gravíssimo é a falta de água porque os militares impedem o acesso ao Rio dos Macacos, que dá nome à comunidade e é tratado como santuário desde os antepassados. “Precisamos do uso compartilhado do rio. Andamos com baldes por quilômetros para conseguir água. O que eles nos fornecem não é o suficiente. Fomos tratados como invasores. E os invasores foram eles”.

 A comunidade está assustada com o que ouviram de militares, sobre a possibilidade de construção de um muro que impediria qualquer acesso às águas. “Esse muro significa a morte do nosso povo quilombola”, escreveu a dupla na carta entregue ao presidente.

“Nosso povo foi criado aí nessas águas, pescando, cuidando do corpo, do espírito. Não tem como a gente sobreviver sem água. O que eu coloquei naquela carta foi pedindo as políticas públicas”.

O que vem da terra

Para sobreviver, a comunidade trabalha com agricultura familiar. Rose Meire relata que mais de 100 famílias já foram embora por causa da falta de condições mínimas. A jaca e a mandioca naquelas terras já foram mais promissoras e atraíam compradores de fora. 

Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação.

O período de seca, a pouca água, a falta de insumos e equipamentos deixaram a situação mais complicada para vender o excedente. “Aqui é todo mundo só na enxada. Se tivesse um tratorzinho, a situação poderia ser diferente”. 

Mesmo assim, a terra ainda rende para subsistência. “Feijão, mandioca, banana, milho, amendoim, batata. A gente planta dentro da comunidade. Se a gente tivesse material para desenvolver, não passava fome”. Rose Meire diz que já perdeu sete irmãos por causa do isolamento. 

“Segurança nacional”

Em nota à reportagem da Agência Brasil, a Marinha entende que foi estabelecido um procedimento conciliatório para uma “solução negociada” com a comunidade quilombola. 

“A área atribuída à Marinha engloba a Barragem Rio dos Macacos e é considerada de segurança nacional, por contribuir para o planejamento das atividades relacionadas ao interesse nacional e à execução de políticas definidas para a área marítima”, diz a nota.

Os militares admitem que o principal acesso à comunidade é pela área militar. “Nesse contexto, a Marinha sempre permitiu, como ainda permite, a passagem regular dos moradores, de seus convidados, visitantes e de qualquer membro dos órgãos governamentais”. Acrescenta o documento que o governo da Bahia faz a construção de estradas de acesso independente à comunidade para aprimorar as políticas públicas. 

Veja também

Artigos Relacionados:

X

X paga multa de R$ 28 milhões e aguarda liberação da rede

X informa que pagou multa de R$ 28 milhões e espera autorização de Moraes para retomar suas atividades no Brasil. Acompanhe as atualizações Pagamento das multas O X anunciou que pagou as multas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. O total é de R$ 28,3 milhões. A defesa comunicará o pagamento ao STF. As multas referem-se ao descumprimento de ordens judiciais. A primeira multa foi

Avião da FAB

Repatriação de brasileiros no Líbano é adiada por segurança

A repatriação de brasileiros do Líbano foi adiada por falta de segurança. As autoridades divulgarão um novo cronograma em breve, com foco em grupos prioritários. Adiamento da operação Raízes de Cedro A Operação Raízes de Cedro, que visava repatriar 220 brasileiros do Líbano, adiou suas atividades. O retorno estava programado para esta sexta-feira (4). Contudo, as autoridades suspenderam a operação devido a preocupações com a

Eleições 2024

Eleições 2024: confira dicas para votação neste domingo

Antes de sair de casa, é fundamental separar documento oficial com foto, checar local de votação e seção eleitoral, além de fazer uma colinha com os números das candidaturas; horário da votação é das 8h às 17h Mais de 34,4 milhões de pessoas vão às urnas nos 645 municípios do estado neste domingo (6) para escolher as candidatas e os candidatos aos cargos de prefeito

Cometa

Cometa que passará perto da Terra poderá ser visto no Brasil

O “Cometa do Século” C/2023 A3 será visível no Brasil em outubro. Descubra como e quando observar este fenômeno astronômico O “Cometa do Século” O cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) é considerado um dos mais importantes a passar perto da Terra neste século. Sua máxima aproximação ocorrerá no dia 13 de outubro, a uma distância de 70.724.459 quilômetros, o que é relativamente próximo em termos astronômicos.

X

X paga multa de R$ 28 milhões e aguarda liberação da rede

X informa que pagou multa de R$ 28 milhões e espera autorização de Moraes para retomar suas atividades no Brasil. Acompanhe as atualizações Pagamento das multas O X anunciou que pagou as multas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. O total é de R$ 28,3 milhões. A defesa comunicará o pagamento ao STF. As multas referem-se ao descumprimento de ordens judiciais. A primeira multa foi

Avião da FAB

Repatriação de brasileiros no Líbano é adiada por segurança

A repatriação de brasileiros do Líbano foi adiada por falta de segurança. As autoridades divulgarão um novo cronograma em breve, com foco em grupos prioritários. Adiamento da operação Raízes de Cedro A Operação Raízes de Cedro, que visava repatriar 220 brasileiros do Líbano, adiou suas atividades. O retorno estava programado para esta sexta-feira (4). Contudo, as autoridades suspenderam a operação devido a preocupações com a

Eleições 2024

Eleições 2024: confira dicas para votação neste domingo

Antes de sair de casa, é fundamental separar documento oficial com foto, checar local de votação e seção eleitoral, além de fazer uma colinha com os números das candidaturas; horário da votação é das 8h às 17h Mais de 34,4 milhões de pessoas vão às urnas nos 645 municípios do estado neste domingo (6) para escolher as candidatas e os candidatos aos cargos de prefeito

Cometa

Cometa que passará perto da Terra poderá ser visto no Brasil

O “Cometa do Século” C/2023 A3 será visível no Brasil em outubro. Descubra como e quando observar este fenômeno astronômico O “Cometa do Século” O cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) é considerado um dos mais importantes a passar perto da Terra neste século. Sua máxima aproximação ocorrerá no dia 13 de outubro, a uma distância de 70.724.459 quilômetros, o que é relativamente próximo em termos astronômicos.

Quer ver mais conteúdos?

Assine Nossa Newsletter

E Fique Por Dentro De Tudo Que Acontece Em Uberlândia.

plugins premium WordPress

Olá, visitante