Nas redes sociais, 15 milhões de pessoas acompanharam as postagens sobre a entrevista de Lula ao JN, mais do que a audiência de Bolsonaro, que foi de nove milhões Quem esperava uma entrevista pesada, como a do presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, certamente ficou surpreso com a sabatina do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, no Jornal Nacional (TV Globo), na quinta-feira. O clima de grande expectativa em torno da entrevista, decorrente do histórico de desentendimentos entre o líder petista e a emissora, foi desanuviado logo no começo, quando o âncora do programa jornalístico de maior audiência da televisão brasileira, ao formular sua pergunta sobre a corrupção nos governos petistas, fez a ressalva de que o ex-presidente não devia nada à Justiça.
Daí para a frente, Lula ficou à vontade, ora sorridente, ora veemente, respondendo às perguntas de acordo com sua conveniência. Algumas vezes, tergiversou; outras, mandou recados aos diferentes públicos que pretende seduzir na campanha eleitoral. Foi o caso da nomeação do novo procurador-geral da República, caso seja eleito. O petista deixou no ar se aceitará a lista tríplice tradicionalmente eleita pelos procuradores, como fez durante seu governo. Sem nunca perder a elegância, foi mais atencioso com Renata Vasconcellos do que com Bonner. O Lula ressentido dos palanques eleitorais deu lugar à nova versão do Lulinha Paz e Amor, 20 anos depois. O petista estava de bem com a vida e convicto de que sua volta ao poder, em parceria com o ex-tucano Geraldo Alckmin, é a chave para resolver os problemas do país.
Não concordo com a tese de que os jornalistas refrescaram deliberadamente Lula, apenas não tiveram oportunidade de confrontá-lo como fizeram com Bolsonaro, porque Lula foi muito esperto e estava preparado para vender seu peixe com competência. Fez isso de forma menos propositiva do que Ciro Gomes, por exemplo, mas muito eficiente para resgatar seu legado como presidente da República por dois mandatos, que deixou o governo com altos índices de aprovação. O caminho crítico era a Operação Lava-Jato, mas esse tema Lula tratou como um erro judicial, da qual foi vítima, o que muda a natureza de sua prisão. Aproveitou para desqualificar o ex-juiz Sergio Moro, que o sentenciou à prisão, e só faltou bater no peito para dizer que seu governo criou condições para todas as investigações da Lava-Jato, ao fortalecer os órgãos de controle e não interferir na Polícia Federal nem no Ministério Público Federal.
Quando questionado sobre o mensalão, derivou para a crítica ao chamado orçamento secreto, no valor de R$ 16 bilhões. Aproveitou a oportunidade para fustigar Bolsonaro, que chamou de “bobo da corte”. Disse que o atual presidente da República entregou o Orçamento da União ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que libera o pagamento das emendas parlamentares diretamente com os ministros. Lula defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff, mas dela manteve distância regulamentar. Criticou os comunistas cubanos e chineses, demarcando território em relação à esquerda e encheu a bola do vice Geraldo Alckmin, para agradar aos eleitores de centro e mostrar que a polarização entre PT e PSDB era do bem, pois se tratavam como adversários, enquanto a luta do bem contra o mal preconizada por Bolsonaro seria de natureza fascista.
Fonte: Correio Braziliense