A Danone anunciou que vai suspender a compra de soja brasileira devido à nova regulamentação europeia contra o desmatamento e questões de sustentabilidade
Danone e a soja brasileira
No dia 25 de outubro, a Danone, gigante francesa de alimentos, anunciou que cogitou suspender a compra de soja do Brasil. A justificativa seria o cumprimento da nova regulamentação da União Europeia contra o desmatamento, conhecida como EUDR. A norma passa a exigir comprovação de origem sustentável das matérias-primas utilizadas. A medida gerou reação imediata no setor agropecuário brasileiro, que se opôs veementemente à possível decisão da Danone.
A EUDR, que entrará em vigor no dia 30 de dezembro de 2024, estabelece que empresas europeias somente poderão importar produtos que comprovem não ter origem em áreas desmatadas. A Danone destina parte significativa de sua soja para ração animal e produtos de suas linhas sem lactose, como Alpro e Silk. A empresa afirmou que buscaria alternativas asiáticas para garantir o atendimento aos novos critérios.
Reações e críticas da Aprosoja
A notícia desencadeou fortes reações entre os produtores de soja do Brasil. Em uma nota oficial emitida em 29 de outubro, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) manifestou seu descontentamento. Classificou a atitude da empresa como “discriminatória”, “intempestiva” e “descabida”. Além disso, afirmou que a suposta decisão seria “uma demonstração de desconhecimento ao processo produtivo no Brasil e um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania”. A Aprosoja destacou ainda que “o boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros”. Além disso, afirmou que isso ocorre mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor.
O presidente da Aprosoja, Maurício Buffon, relatou também que, após as repercussões, recebeu uma ligação do presidente da Danone. Ele confirmou que as aquisições de soja do Brasil continuariam inalteradas. “A Danone nos procurou para falar que a soja e os negócios no Brasil continuam tudo igual e que não vai mudar nada.”, disse Buffon, e declarou que manterão uma postura firme nessa questão, sem admitir discriminação.
Posicionamento Ministério da Agricultura
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) também reagiu contra o posicionamento inicial da Danone, emitindo um comunicado público sobre o assunto. No texto, o MAPA ressaltou que o Brasil possui “uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo” e um sistema robusto para controlar o desmatamento ilegal. Além disso, o ministério afirmou que as exportações de soja do Brasil seguem um processo de due diligence, reiterando o compromisso do país com a sustentabilidade.
O MAPA também considerou a regulamentação da EUDR como “arbitrária, unilateral e punitiva”. Ele argumentou que as normas ignoram as peculiaridades dos países produtores e impõem custos elevados, especialmente para pequenos produtores. “Entendemos que essa postura influencia negativamente o comportamento de empresas comprometendo o entendimento de consumidores sobre a real dimensão da segurança alimentar baseada na produção sustentável e nas negociações internacionais, que deve ser baseada na confiança mútua e no respeito à soberania e à diversidade de soluções nacionais”, afirmou o ministério.
Rastreabilidade e sustentabilidade brasileira
Para reforçar o compromisso com a sustentabilidade e atender às exigências da União Europeia, o MAPA afirmou que o Brasil já desenvolve modelos eletrônicos de rastreabilidade. Esses modelos seguem as diretrizes do EUDR. “Os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus”, acrescentou o ministério, enfatizando que o Brasil busca atender às demandas de sustentabilidade e produção responsável com transparência.
O MAPA também destacou que incentivos positivos são fundamentais para promover a preservação ambiental. Ele afirmou que medidas punitivas prejudicam o acesso dos produtos brasileiros ao mercado europeu. O episódio com a Danone, para o governo, reforça a importância de manter uma posição forte na defesa da sustentabilidade da cadeia produtiva nacional. Ele também destaca a credibilidade internacional do agronegócio brasileiro.
Fonte: Globo Rural