Pesquisadores identificam pegadas na Bacia do Tacutu e confirmam que dinossauros viveram na Amazônia há cerca de 103 milhões de anos
Primeiras evidências
Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima confirmaram as primeiras evidências diretas de que dinossauros viveram na Amazônia. A descoberta se baseia em pegadas fossilizadas com cerca de 103 milhões de anos, encontradas na Bacia do Tacutu, em Bonfim, no norte de Roraima. Até agora, a presença de dinossauros no Brasil já era bem documentada, mas não havia provas concretas na região amazônica. A Amazônia aparecia como um vazio no mapa das grandes descobertas paleontológicas, apesar do enorme potencial geológico.
Esse cenário começou a mudar com o trabalho de campo de equipes ligadas à UFRR e a outras instituições parceiras. As pegadas foram identificadas em afloramentos rochosos que registram antigos ambientes fluviais, hoje expostos em áreas abertas de savana. Os pesquisadores apontam que se trata de um marco para a ciência brasileira e para o entendimento da pré-história amazônica. A confirmação de dinossauros na região ajuda a preencher lacunas sobre como esses animais se distribuíam pelo continente no período jurássico-cretáceo.
Os dados indicam que grandes répteis já circulavam por ali quando rios entrelaçados e vegetação abundante dominavam a paisagem. A pesquisa combina trabalho de campo, análises de laboratório e técnicas digitais avançadas para registrar os vestígios com precisão. Para os cientistas, o achado abre uma nova frente de estudos sobre a história geológica da Amazônia. Eles defendem que o material seja tratado como patrimônio científico e protegido contra danos e interferências humanas.
Bacia do Tacutu
Na Bacia do Tacutu, os pesquisadores identificaram mais de dez pegadas fossilizadas em rochas sedimentares expostas. Essas marcas indicam a passagem de diferentes grupos de dinossauros que viveram na região há milhões de anos. Entre eles estão os chamados raptores, predadores ágeis que deixaram rastros com garras bem marcadas nas rochas. Também foram identificadas pegadas de ornitópodes, dinossauros bípedes e herbívoros que se deslocavam em ambientes alagados ou margens de rios antigos. Outro grupo apontado é o dos xireóforos, animais com uma espécie de armadura óssea na parte superior do corpo. Em alguns pontos, as pegadas formam trilhas fossilizadas, com registros que podem atingir vários metros de extensão.
Essas trilhas ajudam a reconstruir o comportamento dos animais, indicando deslocamentos em grupo e possíveis rotas de passagem. Os cientistas usam técnicas de fotogrametria para gerar modelos tridimensionais de alta fidelidade das pegadas. As imagens permitem medir com precisão largura, comprimento e profundidade de cada marca preservada no terreno. Esses dados são comparados com registros de outros sítios paleontológicos brasileiros e internacionais. A partir dessa comparação, os pesquisadores conseguem estimar tamanho, postura e parte da dinâmica de locomoção dos dinossauros. O conjunto de evidências reforça a ideia de que a região amazônica abrigou ecossistemas complexos muito antes da floresta atual existir.
Desafios de preservação
A Amazônia apresenta desafios naturais importantes para a preservação de fósseis, como clima úmido e intensa erosão das rochas. Segundo o pesquisador Lucas Barros, os fósseis se conservam melhor quando ficam soterrados por camadas de sedimentos. Na época dos dinossauros, o Tacutu funcionava como um vale com diversos canais de rios que fluíam juntos, em ambiente muito úmido. Depois que os animais deixavam as pegadas nas margens, o solo secava, endurecia e acabava soterrado por novos sedimentos. Com o passar de milhões de anos, essas marcas endurecidas se transformaram em rochas capazes de resistir ao desgaste. Hoje, pequenas áreas de savana na Bacia do Tacutu expõem essas rochas e revelam o registro fossilizado.
Estudos recentes indicam que podem existir centenas de pegadas espalhadas pela região, muitas ainda não mapeadas. Parte desses vestígios está em terras indígenas e propriedades particulares, o que exige diálogo e cooperação com as comunidades locais. Alguns proprietários temem impactos jurídicos e limitações de uso da terra, o que pode dificultar novas campanhas de pesquisa. Os especialistas defendem políticas de proteção que aliem preservação científica, segurança jurídica e compensações adequadas. As equipes planejam ampliar as expedições de campo, detalhar mais trilhas fossilizadas e divulgar os resultados em revistas científicas. Para a paleontologia brasileira, a descoberta marca um novo capítulo na compreensão de como os dinossauros habitaram a Amazônia e a América do Sul.







