Dólar pode atingir R$ 6 até o fim de 2024? Analistas discutem os fatores políticos e econômicos que influenciam essa projeção
Alta do dólar e fatores externos
O dólar tem mostrado uma forte valorização ao longo de 2024, com picos acima de R$ 5,70. Um dos principais motores dessa alta é a expectativa de cortes menores de juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed) tem mantido uma postura mais cautelosa em relação à política monetária, o que sustenta o valor do dólar no cenário global. Essa expectativa impacta diretamente o câmbio de países emergentes, como o Brasil, onde o real sente os efeitos da menor atratividade para investidores internacionais.
Além disso, as eleições americanas, marcadas para novembro, também aumentam as incertezas. O possível retorno de Donald Trump à presidência tem sido visto como uma ameaça ao equilíbrio global, especialmente pela adoção de políticas protecionistas que podem diminuir o fluxo de comércio internacional. Segundo José Alfaix, economista da Rio Bravo, uma vitória de Trump traria maior volatilidade ao mercado, afetando a demanda por moedas emergentes e prejudicando a balança comercial de países como o Brasil.
No entanto, a probabilidade de o dólar alcançar R$ 6 até o final de 2024 ainda é considerada baixa por muitos especialistas. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, argumenta que a moeda americana só alcançaria esse patamar com choques econômicos significativos. Esses choques poderiam ser crises políticas ou aumento das tensões globais.
Impacto da política fiscal brasileira
Além dos fatores externos, o cenário fiscal brasileiro é um dos principais elementos que influencia a valorização do dólar. O mercado financeiro tem se mostrado cético em relação ao compromisso do governo brasileiro com o controle das contas públicas. Em julho, Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset, afirmou que, se o governo forçar os limites fiscais, o dólar poderia voltar aos patamares de R$ 5,60 ou até mais elevados.
Esse aumento da percepção de risco faz com que investidores exijam um “prêmio” maior para manter seus recursos no Brasil. Quanto maior o serviço da dívida pública, mais difícil é para o governo arcar com outras despesas, criando um ciclo que prejudica ainda mais a confiança no país. Isso gera um fluxo de saída de capital estrangeiro, contribuindo para a valorização do dólar.
Por outro lado, se o governo conseguir realizar um ajuste fiscal efetivo e demonstrar compromisso com a redução das despesas obrigatórias, há chances de o real se valorizar. Esse ajuste, porém, ainda é incerto, e analistas se dividem quanto à sua viabilidade no curto prazo.
Projeções para o final de 2024
Apesar de o dólar ter batido R$ 5,73, o maior valor desde agosto de 2024, analistas ainda consideram que a moeda não deve fechar o ano nesse nível. Projeções de instituições financeiras, como Western Asset e Ativa Investimentos, indicam que o dólar deve ficar em torno de R$ 5,30 a R$ 5,50 no final de 2024. O Boletim Focus, do Banco Central, também prevê um câmbio médio de R$ 5,42 até o fim do ano.
No entanto, essa estimativa pode mudar rapidamente, dependendo dos desdobramentos políticos e econômicos tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Se as tensões fiscais brasileiras aumentarem, o dólar pode ultrapassar as previsões atuais. Caso as eleições americanas alterem o equilíbrio econômico global, a moeda pode se aproximar de R$ 6.
Fonte: InfoMoney