Sébastien Lecornu renuncia menos de um mês após assumir o cargo, ampliando a crise política no governo de Emmanuel Macron
Renúncia relâmpago
Nesta segunda-feira (6), o primeiro-ministro francês Sébastien Lecornu entregou sua renúncia ao presidente Emmanuel Macron, menos de um mês após assumir. Lecornu assumiu em 9 de setembro depois que o governo anterior de François Bayrou sofreu um voto de desconfiança. Ele nomeou seu novo gabinete em 5 de outubro, mas enfrentou críticas imediatas de aliados e opositores. Apenas 14 horas após a nomeação dos ministros, diversos partidos já ameaçavam derrubar o governo.
Fontes palacianas confirmaram que Macron aceitou a renúncia e requisitou que Lecornu conduza “negociações finais” nos próximos dias. A renúncia de Lecornu marca o fim do governo mais breve da Quinta República, com duração oficial de 27 dias. Ministros recém-nomeados permanecem à frente das “funções de gestão corrente” até nova definição de gabinete. Lecornu justificou que “as condições para governar não estavam reunidas” e responsabilizou os partidos pela falta de compromisso.
Crise política
A França convive com instabilidade desde a dissolução do Parlamento e eleição antecipada de 2024, que deixou a Assembleia Nacional fragmentada entre esquerda, centro e extrema-direita. Lecornu foi o quinto primeiro-ministro nomeado por Macron em dois anos, refletindo o vácuo de lideranças com poder de consenso. A composição do novo gabinete irritou opositores e aliados, muitos acusaram Lecornu de mancância em “quebrar com o passado” e de manter figuras conhecidas do governo anterior. O partido de extrema-direita Rassemblement National (Reunião Nacional) exigiu eleições legislativas antecipadas. O mercado reagiu rapidamente: o índice CAC 40 caiu cerca de 1,5% e ações de bancos franceses despencaram entre 4% e 5%. O euro também sofreu, caiu cerca de 0,7% frente ao dólar. A saída abrupta reforça a percepção de que Macron enfrenta dificuldades constantes de governança, sem apoio parlamentar firme para aprovar o orçamento e reformas essenciais.
O que esperar nos próximos dias
Macron concedeu a Lecornu um prazo de 48 horas para concluir negociações políticas com partidos e definir uma “plataforma de ação” para estabilidade. Caso falhe, o presidente já sinalizou que assumirá responsabilidades diretas. A prioridade imediata será elaborar e apresentar um novo orçamento para 2026, tarefa impossível com um governo interino de poderes restritos. O parlamento pode ter de recorrer a medidas emergenciais, como estender provisoriamente o orçamento vigente ou aprovar apenas partes essenciais. Macron terá de escolher um novo primeiro-ministro que possa compor alianças ou considerar dissolver a Assembleia e convocar eleições legislativas antecipadas. Alguns observadores veem essa solução como inevitável, dado o impasse político crônico no país. Já em discursos e manifestações, setores opositores já pedem não só eleições antecipadas, mas a renúncia de Macron. O êxito dessas negociações e as próximas movimentações determinarão se a crise se agrava ou se será possível retornar à governabilidade.







