Ararinhas-azuis recapturadas na Bahia testam positivo para circovírus. ICMBio investiga a origem e reforça medidas de biossegurança
O ICMBio informou nesta quarta-feira (26), que as 11 Ararinha-azul recapturadas no início de novembro testaram positivo para o Circovírus dos psitacídeos. O exame confirma infecção por um vírus altamente letal para psitacídeos, que causa a doença do bico e das penas. O patógeno provoca alterações nas penas, falhas no empenamento e deformidades no bico e geralmente leva à morte dos animais afetados. O programa de conservação da espécie reintroduziu as aves em 2022 na Caatinga baiana, no município de Curaçá. Segundo o ICMBio, o surto representa um dos piores cenários já registrados para a espécie na natureza.
O vírus, embora grave para araras, papagaios e outros psitacídeos, não representa risco para humanos nem para aves de criação como galinhas ou patos. As investigações já começaram para determinar a origem da infecção entre as ararinhas-azuis. Como medida imediata, a equipe vai separar as aves infectadas das demais e reforçar os protocolos de biossegurança nos viveiros e locais de manejo.
Histórico da espécie e da reintrodução
A Ararinha-azul é uma ave endêmica da Caatinga e da margem do rio São Francisco, com habitat natural em partes da Bahia e de Pernambuco. A espécie foi considerada extinta na natureza no início dos anos 2000 devido ao desmatamento, tráfico e perda de habitat. Parcerias internacionais repatriaram aves mantidas em cativeiro e, em 2022, o plano de reintrodução soltou um grupo no sertão baiano.
Na época, a comunidade científica comemorou a volta da espécie ao seu habitat natural após décadas de ausência. A reintrodução representava uma das maiores esperanças de reverter a extinção da espécie na natureza. Porém, o surto de circovírus ameaça comprometer esse avanço. O surto evidencia a vulnerabilidade máxima da espécie quando submetida a falhas de manejo e controle sanitário.
Biossegurança falha
Após constatar a infecção, o ICMBio, o Inema e a Polícia Federal vistoriaram o criadouro responsável pelo programa de reintrodução. Eles identificaram falhas graves nos protocolos sanitários. Os comedouros estavam sujos com acúmulo de fezes ressecadas e os funcionários manuseavam as aves sem o uso de equipamentos de proteção adequados.
Os fiscais lavraram um auto de infração contra o criadouro e seu diretor, no valor aproximado de R$ 1,8 milhão. Também foram suspensas novas solturas até que a situação sanitária esteja controlada e protocolos rigorosos sejam implementados. A coordenação da Emergência Circovírus destacou que, se as medidas tivessem sido seguidas corretamente, talvez apenas um animal tivesse testado positivo em vez de 11.
Especialistas alertam que a contaminação coletiva compromete não apenas os indivíduos afetados, mas toda a possibilidade de reinserção da espécie na natureza. A alta letalidade e a falta de cura aumentam o risco de extinção definitiva da Ararinha-azul fora dos cativeiros.
O que vem pela frente
O ICMBio informou que seguirá com a triagem das aves recapturadas e com a separação segura entre animais positivos e negativos. Também pretende reforçar os protocolos de limpeza e manejo com desinfecção de recintos e utensílios e uso obrigatório de EPIs pelos funcionários. A soltura de novos indivíduos permanece suspensa até que haja garantia sanitária.
A comunidade de conservação ambiental está em alerta. A sobrevivência da Ararinha-azul depende de medidas urgentes e de transparência no manejo. Caso contrário, a espécie já considerada criticamente em perigo corre o risco de desaparecer da natureza de vez.







