Exposição “A Ecologia de Monet” no Masp atrai 410 mil visitantes e supera recordes de Tarsila e do próprio Monet
Superação de Tarsila do Amaral
Nesta quarta-feira (27), o Masp confirmou um feito histórico: a exposição “A Ecologia de Monet” se tornou a mais visitada da história do museu. Desde sua abertura, em 16 de maio, a mostra já havia recebido 410 mil visitantes até 24 de agosto, ultrapassando a marca de Tarsila Popular, que reuniu 402.850 pessoas em 2019. Esse recorde também supera os 401 mil espectadores de Monet — O Mestre do Impressionismo, realizada no mesmo museu em 1997.
O marco reforça não apenas o apelo internacional da obra de Claude Monet, mas também a força do Masp em atrair grandes públicos e tornar acessível ao Brasil obras que raramente saem da Europa ou da América do Norte. O sucesso motivou a prorrogação da mostra até 6 de setembro, acompanhada de horários estendidos e entrada gratuita em dias selecionados. Essa medida ampliou o acesso ao público em geral.
Uma ecologia em cinco núcleos temáticos
Com curadoria de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, e assistência de Isabela Ferreira Loures, “A Ecologia de Monet” apresenta 32 obras que atravessam fases distintas da carreira do pintor impressionista (1870–1920). A maioria das peças veio emprestada de museus de renome mundial, como o Musée d’Orsay (França), o Instituto de Arte de Chicago e o Museu de Arte da Filadélfia (EUA).
A mostra se organiza em cinco núcleos:
- Os Barcos de Monet, que explora cenas no Sena com cores intensas.
- O Sena como Ecossistema, que destaca a relação vital do artista com o rio, desde sua infância em Le Havre até os últimos anos de vida.
- Neblina e Fumaça, que aborda a industrialização e seus efeitos sobre as cidades do século XIX, com paisagens urbanas densas e carregadas de fumaça.
- O Pintor como Caçador, que mostra o lado explorador de Monet, sempre em busca de novas paisagens, muitas vezes caminhando longas distâncias ou viajando por diferentes países.
- Giverny: Natureza Controlada, onde aparece o jardim que Monet cultivou em sua casa por mais de 40 anos, fonte inesgotável de inspiração para obras icônicas como A Ponte Japonesa.
Fernando Oliva explica que, embora Monet não tratasse ecologia no sentido atual, sua obra capturou tensões entre natureza e modernidade, permitindo leituras contemporâneas que dialogam com as urgências climáticas do presente.
Acessibilidade, prorrogação e impacto cultural
Para atender ao grande público, o Masp ampliou horários de funcionamento na última semana:
- Terça-feira (2/9): das 10h às 24h, com entrada gratuita durante todo o dia.
- Quinta (4/9), sexta (5/9) e sábado (6/9): das 10h às 24h, com gratuidade entre 18h e 23h.
O museu também reforça sua política de acessibilidade: oferece visitas em Libras, audiodescrição, textos ampliados e recursos audiovisuais em linguagem simples. Além disso, a exposição integra o ciclo “Histórias da Ecologia”, que ao longo do ano apresenta nomes como Frans Krajcberg, Clarissa Tossin e Abel Rodríguez. Um catálogo bilíngue em português e inglês foi lançado com ensaios inéditos sobre a relação de Monet com a ecologia.
Esse recorde não representa apenas números: mostra o crescente interesse do público brasileiro por exposições de grande impacto cultural e reflexivo. Para muitos, como a visitante Paola, trata-se de uma experiência emocional e transformadora.
Desabafo de Paola (íntegra)
“A exposição me trouxe mais do que arte. Trouxe um choque íntimo. Ao ver Monet confrontar fumaça, industrialização, natureza… senti minha própria paisagem mudar. Eu cresci vendo prédios tomar espaço, rios secarem, árvores caírem. Monet me lembrou que olhar para a natureza é olhar para nós. Que pintar, registrar, cuidar, é uma urgência. Eu chorei diante de uma névoa impressa há mais de cem anos e entendi que ainda precisamos resgatar esse olhar sensível. Saí do Masp com um peso leve no peito, um convite a cuidar do que nos rodeia.”