Afastamentos por transtornos mentais no Brasil cresceram 400% desde a pandemia. Em 2024, o país registrou mais de 470 mil licenças médicas.
Impacto da pandemia na saúde mental dos trabalhadores
O Brasil enfrenta uma crise de saúde mental nunca vista, com um número recorde de afastamentos do trabalho por transtornos mentais. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, em 2024, o país registrou 472.328 licenças médicas devido a problemas emocionais, um aumento de 400% em relação a 2020, quando a pandemia da Covid-19 alcançou seu auge. Esse crescimento expressivo reflete o impacto profundo da crise sanitária nas vidas dos trabalhadores brasileiros, que enfrentaram uma sobrecarga emocional nunca antes vista.
O aumento nas licenças reflete não apenas o agravamento dos transtornos mentais, como ansiedade e depressão, mas também o estresse gerado pelo isolamento social, a insegurança financeira e as incertezas trazidas pela pandemia. Além disso, fatores como o luto devido às mortes provocadas pela Covid-19 e as dificuldades econômicas, com o aumento do custo de vida e a instabilidade no mercado de trabalho, contribuíram para agravar ainda mais esse quadro. Em 2024, o Brasil vive a maior série histórica de afastamentos por transtornos mentais, com números que superam os registrados em qualquer outro período desde 2014.
Desafios para o governo
Ao analisar os dados por estado, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os locais com maior número absoluto de afastamentos. No entanto, quando se leva em conta o índice por população, o Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul se destacam. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o impacto das tragédias climáticas de 2024, como as enchentes, também pode ter contribuído para o aumento nas licenças médicas.
O perfil dos trabalhadores afastados também traz dados preocupantes: 64% das licenças são de mulheres, com uma média de idade de 41 anos. A maior parte dos casos está relacionada a transtornos como ansiedade e depressão. Especialistas apontam que, além das questões psicológicas, fatores sociais como a sobrecarga de trabalho, a responsabilidade pelo cuidado familiar e a disparidade salarial entre homens e mulheres têm contribuído para esse aumento.
O governo federal, ciente do impacto da crise de saúde mental, tem buscado soluções para mitigar a situação. O Ministério do Trabalho, por exemplo, anunciou a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que trata da saúde no ambiente de trabalho. A norma passará a fiscalizar as empresas, impondo multas caso sejam identificadas falhas na prevenção de problemas relacionados à saúde mental dos funcionários. A medida visa aumentar a conscientização sobre os cuidados necessários para preservar o bem-estar emocional dos trabalhadores e, assim, tentar conter o aumento contínuo de afastamentos.
Desafios econômicos e sociais
O cenário se agrava quando se leva em consideração os impactos econômicos desses afastamentos. Em média, cada trabalhador afastado por transtornos mentais ficou três meses sem trabalhar, recebendo cerca de R$ 1.900 por mês do INSS. Isso resulta em um impacto financeiro de mais de R$ 3 bilhões para a economia brasileira em 2024. O aumento do número de licenças médicas representa não só uma perda para as empresas, mas também um reflexo da incapacidade de muitos trabalhadores em manter a produtividade diante de problemas emocionais intensos.
Por outro lado, o aumento das licenças também reflete uma mudança na percepção sobre a saúde mental. Antes negligenciado, o tema se tornou mais discutido e reconhecido, o que tem levado muitas pessoas a procurarem ajuda médica mais cedo. Essa mudança de mentalidade é vista como positiva, pois permite diagnósticos mais rápidos e tratamentos adequados. Especialistas destacam que, embora a crise de saúde mental seja multifatorial, o fato de os trabalhadores estarem mais abertos a buscar apoio médico é um passo importante na mitigação do problema.