Tratamento para Alzheimer chega ao Brasil, podendo retardar a progressão da doença em pacientes nos estágios iniciais
O Brasil começa a disponibilizar o Kisunla, nome comercial do donanemabe, novo medicamento para pacientes em estágios iniciais do Alzheimer. O remédio foi aprovado pela Anvisa em abril de 2025 e marca um avanço após mais de vinte anos sem novidades significativas no tratamento da doença. Ele é um anticorpo monoclonal desenvolvido pela Eli Lilly, capaz de se ligar às placas de beta-amiloide, proteínas que se acumulam no cérebro e estão associadas à progressão da enfermidade. O mecanismo permite retardar o declínio cognitivo em pacientes selecionados.
Nos estudos clínicos, que duraram 18 meses, pacientes tratados com Kisunla apresentaram uma progressão da doença até 35% menor em comparação com os que receberam placebo. Esse resultado significou um atraso médio de 4,4 meses no declínio cognitivo. Além disso, houve uma redução de 37% no risco de avanço para fases mais graves do Alzheimer. Dados de acompanhamento de três anos indicam que parte dos benefícios pode continuar mesmo após o término da terapia.
O medicamento é indicado apenas para pessoas com comprometimento cognitivo leve ou demência leve. Isso significa que não é uma opção para estágios intermediários ou avançados da doença. O tratamento é aplicado mensalmente por via intravenosa, em ambiente clínico ou hospitalar, e pode durar até 18 meses, dependendo do acompanhamento médico.
Custos elevados e acesso restrito
Apesar do potencial de mudança, o Kisunla chega ao Brasil com custo elevado. Cada frasco de 350 mg pode custar até R$ 5.495,76, segundo a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Na prática, clínicas e hospitais cobram valores ainda maiores, considerando a necessidade de acompanhamento médico e exames. Estimativas apontam que o tratamento mensal pode ultrapassar R$ 30 mil.
A Dasa será um dos primeiros grupos a oferecer o medicamento no país. A partir de setembro, o Kisunla estará disponível nas unidades do Alta Diagnósticos em São Paulo e no Rio de Janeiro. O valor inicial divulgado é de cerca de R$ 8 mil por frasco, incluindo consulta com neurologista e infraestrutura para infusão. Cada sessão leva em média 30 minutos, seguidos de outra meia hora de observação clínica.
Não há previsão de incorporação do remédio ao Sistema Único de Saúde (SUS) nem de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Esse cenário deve restringir o tratamento a uma pequena parcela da população que consegue arcar com os custos privados.
Riscos, exames e acompanhamento rigoroso
Embora traga esperança, o Kisunla exige cuidados importantes. O neurologista Diogo Haddad, do Alta Diagnósticos, ressalta que o remédio “já demonstrou resultados interessantes em estudos clínicos, mas precisa de acompanhamento rigoroso”. Os efeitos colaterais não são raros e incluem reações à infusão, dores de cabeça e até complicações cerebrais conhecidas como ARIA — anomalias detectadas em exames de imagem, como inchaço e pequenas hemorragias.
Casos graves, inclusive com risco de óbito, foram relatados em pesquisas. Por isso, especialistas recomendam que os pacientes passem por ressonâncias magnéticas periódicas para monitorar possíveis complicações. O neurologista Ivan Okamoto, do Hospital Albert Einstein, reforça que “a seleção do paciente é criteriosa” e que até rastreamentos genéticos são realizados. Portadores de variantes do gene ApoE ε4, por exemplo, apresentam risco maior de complicações graves e muitas vezes não são candidatos ao tratamento.
Outro desafio é a necessidade de exames que comprovem a presença das placas amiloides no cérebro. No entanto, esses testes ainda não estão amplamente disponíveis no Brasil, o que pode limitar ainda mais a seleção de pacientes. Isso reforça que, apesar de inovador, o Kisunla não é uma solução imediata para todos os diagnosticados com Alzheimer.