O Estadão demitiu o fotógrafo após ele registrar o gesto obsceno de Moraes, mas o jornal nega qualquer relação entre a imagem e a demissão
Polêmica da imagem
Nesta quarta-feira (6), o jornal O Estado de S. Paulo demitiu o fotógrafo Alex Silva, veterano com 23 anos de casa. A demissão ocorreu dias após a viralização da foto que mostra o ministro Alexandre de Moraes levantando o dedo do meio durante partida entre Corinthians e Palmeiras. O jornal, em nota oficial, afirma que a decisão já estava prevista como parte de uma reestruturação administrativa da editoria de Fotografia.
Segundo a nota, a demissão segue “critérios exclusivamente administrativos” e não tem relação com o flagrante. A imagem, considerada de valor jornalístico, foi destacada como principal na home do site e mantida em posição de relevância na edição impressa. A direção do jornal teria tomado a decisão antes de a polêmica ganhar força nas redes sociais.
Fotógrafo contesta justificativa oficial
Alex Silva afirmou à imprensa que recebeu explicações vagas da redação, sem menção a seu desempenho profissional. O fotógrafo declarou estar indignado com a ausência de justificativa clara e suspeita que sua demissão esteja ligada ao impacto da imagem nas redes. Ele mencionou ainda que reclamou internamente que a foto recebeu pouca visibilidade editorial, limitado espaço na home e ausência na capa.
Para Silva, o jornal “escondeu a foto”, sugerindo recuo diante de sua repercussão política. O profissional disse que, após ser avisado de que Moraes estaria no estádio, registrou o momento durante o aquecimento dos jogadores. Foram três cliques, transmitidos rapidamente à redação, e logo reproduzidos amplamente entre os cerca de 70 fotógrafos na cobertura.
Disputa sobre liberdade de imprensa
A demissão reacende o debate sobre independência editorial e liberdade de imprensa. O Estadão reafirma seu compromisso com esses princípios e afirma que tratou a imagem com relevância jornalística. Por outro lado, o fotógrafo questiona o verdadeiro motivo do desligamento e aponta desconexão entre a política editorial e a transparência informativa. A situação evidencia tensão entre a produção jornalística de impacto e diretrizes corporativas em momentos sensíveis politicamente.
A imprensa enfrenta dilema: registrar fatos contundentes versus neutralidade em contextos delicados. Especialistas afirmam que a decisão pode gerar autocensura quando pautas envolvem autoridades. A repercussão mostra a força simbólica e política das imagens no jornalismo contemporâneo. A foto de Moraes se tornou um símbolo, e o afastamento do fotógrafo, um alerta sobre os limites da cobertura crítica.






