Fiocruz e EMS fecham acordo para fabricar no Brasil canetas com semaglutida e liraglutida. Produção poderá ampliar acesso pelo SUS no futuro
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a farmacêutica brasileira EMS anunciaram, nesta quarta-feira (6), um acordo para produzir canetas injetáveis usadas no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. O foco da parceria são os medicamentos com as substâncias liraglutida e semaglutida, conhecidas por sua eficácia no controle glicêmico e na perda de peso. A EMS iniciará a produção em Hortolândia (SP) e, futuramente, transferirá o processo para Farmanguinhos, no Rio de Janeiro.
O acordo prevê a transferência completa de tecnologia, incluindo a síntese do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) e a formulação do produto final. Essa é a primeira parceria no país com transferência total ao setor público. A diretora de Farmanguinhos, Silvia Santos, destacou que a iniciativa inaugura uma nova fase para medicamentos injetáveis na instituição. Segundo ela, a Fiocruz agora se prepara para incorporar novas formas farmacêuticas com tecnologia nacional. A expectativa é que a produção reduza a dependência externa e os custos no médio prazo. A Fiocruz e a EMS anunciaram a parceria durante o Fórum Saúde, realizado em Brasília.
Inclusão no SUS e avanço regulatório estão no horizonte
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o governo avalia incluir os medicamentos no SUS, principalmente para pacientes com obesidade grave. Uma das propostas em análise é oferecer o tratamento como alternativa para pessoas que aguardam por cirurgias bariátricas. O custo elevado das canetas hoje limita seu acesso na rede pública. Com a nacionalização, espera-se baratear o valor e ampliar a distribuição. A Anvisa também anunciou que fará um chamado público para que outras farmacêuticas registrem produtos similares no país.
A medida visa ampliar a concorrência e acelerar a produção local. A Fiocruz, por ser instituição pública, pode oferecer preços mais competitivos ao sistema de saúde. Ainda será necessário passar por avaliação da Conitec, responsável por recomendar novas tecnologias ao SUS. Mesmo assim, a produção interna já é vista como avanço estratégico. O Complexo Econômico-Industrial da Saúde pode ser fortalecido com essa incorporação. O acordo também tem impacto simbólico: marca o protagonismo brasileiro em inovação no setor de biotecnologia.
Brasil se antecipa à expiração de patentes e investe em autonomia
A parceria acontece em um momento estratégico para o Brasil. A patente da liraglutida já expirou e a da semaglutida termina em março de 2026. Com isso, a entrada de genéricos se tornará possível, impulsionando a produção local. Empresas como Hypera Pharma e Biomm já se movimentam para lançar suas versões. Mas a Fiocruz é pioneira ao garantir a transferência de tecnologia integral ao setor público. A produção nacional pode impulsionar a soberania tecnológica e facilitar o acesso da população.
Os medicamentos, como Ozempic, Wegovy, Saxenda e agora o brasileiro Olire, são cada vez mais procurados por seus efeitos no emagrecimento e controle do diabetes. Com a nova produção, o Brasil poderá atender à crescente demanda com menor dependência externa. A Fiocruz aposta em um modelo sustentável de produção, aliando ciência, acesso e saúde pública. Essa estratégia coloca o país em rota de inovação na produção de biofármacos injetáveis. E sinaliza uma nova etapa na política de medicamentos no Brasil.







