Operação em SP revela que mais de 60 motéis ligados ao PCC lavaram R$ 450 milhões; investigação envolve postos de combustíveis e fintechs
Operação Spare
Nesta quinta-feira (25), o MP e a Receita deram início à Operação Spare, que mira justamente essa rede criminosa que atuava em motéis, postos e empresas conectadas. Policiais cumprem 25 mandados de busca e apreensão em diversos municípios, incluindo São Paulo, Santo André, Barueri, Osasco e Bertioga. A operação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que já havia desmantelado esquemas financeiros da facção no setor de combustíveis. As investigações apontam Flávio Silvério como pivô de todo o esquema. As autoridades ainda não localizaram oficialmente a defesa dos investigados.
As autoridades esperam que a apreensão de documentos e quebra de sigilos bancários traga mais clareza sobre o tamanho real da rede. O Ministério Público enfatiza que o crime organizado escolheu o setor hoteleiro por sua capacidade de movimentar grandes quantias em espécie e dissimular o fluxo financeiro. A complexidade do esquema expõe como organizações criminosas podem infiltrar negócios legítimos com aparente legalidade. Se comprovadas as acusações, os envolvidos responderão por lavagem de dinheiro, organização criminosa e crimes correlatos.
Esquema sob investigação
Segundo o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal, motéis espalhados por diversas cidades do estado foram incorporados a um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro. Os órgãos investigativos identificaram mais de 60 motéis, muitos registrados em nome de laranjas. Entre 2020 e 2024, estima-se que esses motéis movimentaram cerca de R$450 milhões. Os operadores misturaram os recursos ilícitos ao faturamento real, dificultando o rastreamento.
Além disso, os operadores usaram os restaurantes internos dos motéis, com CNPJs próprios, como parte da fraude. Um dos motéis chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada como lucro aos sócios. Outro estabelecimento repassou R$1,7 milhão em lucros após registrar receita de R$6,8 milhões. Para dar suporte ao esquema, as empresas hoteleiras usavam contabilidade paralela, criando uma máscara legal para os valores escusos.
Relação com postos, combustíveis e fintech
O esquema, segundo a denúncia, estava integrado a uma rede maior de empresas relacionadas ao ramo de combustíveis e jogos de azar. Postos de gasolina, franquias e motéis operavam em conjunto para disfarçar a origem das verbas. Os operadores direcionavam parte dos valores a uma fintech identificada como BK Bank, já envolvida na Operação Carbono Oculto. Eles teriam usado essa instituição para misturar valores de operações legítimas com recursos ilícitos. A investigação segmentou ao menos seis núcleos operacionais com relações cruzadas entre si. O núcleo paulista, liderado por Flávio Silvério Siqueira, seria o epicentro do esquema. Ele é apontado como principal operador da rede entre motéis, postos e empresas de fachada. A estratégia permitia deslocar dinheiro entre CNPJs diversos, o que dificultava sua detecção pelas autoridades.
Os investigados não usavam somente os estabelecimentos para lavar dinheiro, mas também para ampliar seu patrimônio pessoal. Os investigados usaram os recursos para comprar imóveis, veículos de alto padrão e até aeronaves. Um dos alvos teria adquirido um iate, helicópteros e carros de luxo. Terrenos de motéis foram avaliados em dezenas de milhões de reais. Os bens bloqueados pelas autoridades representam, segundo apurações, uma fração menor do patrimônio real dos suspeitos. Segundo reportagem da CNN, os investigados movimentaram valores muito superiores aos declarados para fins fiscais. O esquema incluiu ainda retificações de declarações de Imposto de Renda, para incluir patrimônio posterior sem comprovação de origem ou pagamento de tributos. Isso reforça a tese de ocultação deliberada e uso de empresas de fachada para mascaramento.







