Estudo do CNJ revela que quase 8% das adoções no Brasil são desfeitas, afetando a saúde emocional das crianças devolvidas
Adoções desfeitas
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou dados alarmantes sobre adoções desfeitas no Brasil. Quase 8% dos processos são interrompidos, afetando profundamente a vida das crianças. De cada 100 menores em guarda provisória, cerca de oito retornam ao sistema de acolhimento. Em números absolutos, são mais de 1.600 casos entre 2019 e 2023.
Essas devoluções ocorrem em diferentes etapas do processo de adoção, inclusive após a convivência. Muitas vezes, a desistência se deve à dificuldade de lidar com questões emocionais ou comportamentais das crianças. Esse cenário reflete a importância de um preparo mais rigoroso para futuros pais adotivos, além de suporte contínuo durante a adaptação.
Impactos emocionais
A interrupção de uma adoção causa traumas severos nas crianças. Elas vivenciam sentimentos de rejeição, baixa autoestima e desenvolvem comportamentos agressivos. A história de Safyra ilustra essa realidade. Após uma tentativa frustrada de adoção, ela quase retornou ao abrigo, enfrentando novamente a insegurança e o risco de perder um lar. Felizmente, Leonor Costa, sua mãe adotiva atual, mudou esse destino.
Pesquisas mostram que crianças neurodivergentes ou com mais de cinco anos enfrentam maior risco de devolução. Cerca de 54% das devoluções envolvem crianças nessa faixa etária, enquanto apenas 23% das adoções bem-sucedidas são de menores com mais de cinco anos. Esse dado sugere a necessidade de maior sensibilização das famílias quanto aos desafios específicos dessa etapa.
Caminhos para melhorar o processo
O estudo também sugere medidas para reduzir a interrupção de adoções. Fortalecer o acompanhamento psicológico e criar programas de suporte contínuo são passos fundamentais. Além disso, é crucial trabalhar na preparação das famílias, especialmente quando a criança apresenta necessidades especiais ou histórico de trauma.
Casos como o de Alessandra, devolvida e posteriormente readotada, mostram como a rejeição pode deixar marcas profundas. Ela, mesmo acolhida por uma nova família amorosa, enfrentou anos de terapia para lidar com o medo do abandono. Situações assim destacam a importância de garantir que a adoção não seja encarada como um plano alternativo, mas como uma decisão consciente e definitiva.
A adoção é um compromisso irrevogável na legislação, mas a prática ainda permite exceções. Cabe à sociedade e ao sistema de justiça garantir que cada criança adotada encontre não apenas um lar, mas um ambiente estável e acolhedor.